Martinho Lutero foi radical ao afirmar que " a Filosofia era uma prostituta, filha de satanás", enquanto Felipe Melanchton acreditava que a Filosofia poderia ser útil ao exercício da Teologia em seus métodos. Karl Barth, o ilustre teólogo reformado do século vinte é mais conciliador ao não demonizar a Filosofia mas sem também escravizar a Teologia ao método filosófico, como dizia: "Teologia é ciência livre, alegre e modesta", diga-se de passagem que foi Barth o instrumento que Deus usou para reconduzir a igreja aos caminhos da verdadeira ortodoxia que não é dominada por tradições e teologias secularizadas, mas submissa incondicional da Palavra de Deus, fazendo coro a uma das cinco solas: "sola scriptura".
Comungo da ideia de Barth, a filosofia não é demonizadora, mas também não é prédica para a Teologia, muito menos senhora desta. A Filosofia é filha da razão e a bíblia fala de culto racional, equilíbrio e importância da razão, todavia a Teologia não é filha da razão (humana) é filha da Fé, aliás sou fascinado pela colocação de Barth quando ele disse que " a Fé não é a matéria da Teologia é prédica para se estudar Teologia", se a razão é importante no aprendizado do sagrado, a fé é indispensável, afinal o mesmo Paulo que nos orienta a um culto racional, não é contraditório ao expôr que " ninguém entende as coisas de Deus, senão pelo Espírito de Deus". Nosso culto deve ser racional, mas a razão não é o limite para nossa liturgia!
Foram os tempos em que a ignorância era soberana no seio da Igreja, ainda é fato sociológico o fenômeno religioso com proporções muito maiores nas camadas pobres da sociedade, todavia houveram avanços significativos no status quo da massa que compõe a formação da cristandade pelo menos no que diz respeito as terras tupiniquins. Parece que a Igreja herdou em Cristo a promessa a Israel de ser "cabeça e não cauda" (Dt. 28.13) de "desfrutar do melhor da terra" (Is. 1.19) e "se assentar entre os príncipes da terra" ( I Sm.2.8). É no mínimo gratificante saber que a Igreja deixou para trás os tempos da ignorância e compreendeu que se devemos crescer tanto em graça, não significa que devemos negligenciar o crescimento também no conhecimento (II Pe. 3.18).
Temos intelectuais nas fileiras da Igreja: Teólogos, Filósofos, Sociólogos, Historiadores e tantos Doutores.
Mesmo em tempos passados intelectuais da Igreja conquistaram respeito no ambiente secular tais como: Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Martinho Lutero, João Calvino, Soren Kierkegaard, Karl Barth, Rudolf Bultman e tantos outros que precisaria de um memorial para expôr seus nomes. Mesclados: católicos e protestantes, da Igreja fluíram figuras que somaram na história do pensamento da humanidade.
Ainda hoje podemos citar tantos outros nomes que ainda desfrutam da vida, mas não é o o objetivo aqui. A Igreja produziu suas teologias e filosofias-ainda tem muito a avançar-mas a intelectualidade é uma verdade incontestável na realidade da Igreja. Se é gratificante por um lado é ameaçador por outro. Por que? Ora porque ainda que discordo de Lutero que a Filosofia seja uma "filha de satanás" concordo quando ele diz que "ela contamina a pureza do evangelho". Se não devemos desprezar o que de útil pode nos oferecer a Filosofia e mesmo as teologias, não podemos nunca nos esquecer que nossa fé não repousa no tapete da racionalidade humana, mas nosso sólido alicerce ainda (e sempre assim será) se sustenta sobre a " Loucura da pregação" ( I Co. 1.21).
Lembrava nesses dias de figuras como Jhon Wesley, D.L. Moody, Kathryn Kuhlmn, Billy Grahan, não menciono no que diz respeito a teologia de cada um deles, pois em alguns aspectos tenho discrepâncias, mas menciono como figuras que indiscutivelmente sacudiram um tempo, marcaram época e se canonizaram nos anais da História por levar o evangelho ao mundo e trazer boa parte do mundo ao reconhecimento de Cristo como seu salvador, para tal não precisaram de nada mais, senão do "vento impetuoso do Espírito " que movia-os a lançar as redes no mar do mundo escuro e fazer brilhar sobre os perdidos a luz da salvação em Jesus.
Talvez precisemos como diria a Sra. Kuhlman: " Voltar a velha bíblia" ou como ressoou Lutero, fazer da nossa mente " Escrava da palavra de Deus", lembremos que nossas teologias são complexas - e talvez seja as complexidades que tragam brilho a teologia- mas o evangelho é simples e simplesmente revolucionário.
Possivelmente seja hora de compreendermos que não devemos desprezar o conhecimento, mas jamais esquecer que se por um lado a graça sem o tempero do conhecimento pode nos conduzir ao terreno do fanatismo, por outro lado o conhecimento sem a graça pode nos lançar no calabouço de uma vida cristã fria e racionalizadamente secularizada.
Tenhamos equilíbrio, amemos o conhecimento, mas amemos muito mais o Senhor de todo o conhecimento.
O Conhecimento pode transformar uma maneira de pensar, a Graça pode transformar um mundo inteiro!
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