30 de agosto de 2014

A coisificação do Evangelho: Quando Igreja vira negócio!

  Dentre as três maiores religiões do mundo: Judaísmo, Islamismo e Cristianismo, a última ainda tem um lugar de destaque. Se comparada a longa Idade Média onde a Igreja conseguiu a façanha de "Cristianizar" o Ocidente a tal ponto de tornar-ló conhecido na História como: "Civilização Cristã", de fato o Cristianismo já não tem mais hegemonia e têm na contemporaneidade muitas religiões e seitas em crescimento que tem atraído uma nova geração pós-moderna que busca o novo, uma nova espiritualidade, muitas vezes, uma espiritualidade que fuja dos padrões tradicionais e milenares, tal como a espiritualidade cristã.

       Todavia o Cristianismo ainda é celeiro de multidões que na pluralidade da Cristandade: Católicos, ortodoxos, protestantes históricos, reformados, pentecostais, neopentecostais, conseguem encontrar um ponto de unidade para tanta pluralidade: A centralização da Fé na figura de Jesus. A figura de Jesus é profundamente discutida, principalmente nos meios acadêmicos,  para alguns ele nada mais é do que produto da criatividade mitológica da Igreja, para outros, de fato ele existiu, mas os Evangelhos canônicos estão longe de serem documentos fidedignos para um historiografia. Nossa problematização não se concentra aqui, portanto vale apenas ressaltar algo indiscutível: factual ou mitológico, Jesus dividiu a História e se tornou o cerne da existência de milhões de pessoas ao longo do mundo nos últimos dois mil e poucos anos.

       Para os cristãos, os Evangelhos são  fontes primárias e fiéis da vida, obra e palavras de Jesus. Este ponto é digno de ser ressaltado, haja vista, que segundo Mateus, Jesus disse: "Basta ao discípulo ser como seu Mestre" (Mt.10.25). Este dito de Jesus simplifica toda a obra do discipulado, um contínuo esforço para ser parecido com seu Mestre! Apesar de todas as controvérsias e ficções que envolvem Jesus, os Evangelhos apresentam-no como um homem simples, humilde, conciliador e quebrador de protocolos e paradigmas. Em um contexto histórico do Século I de opressão política e religiosa ao mesmo tempo- afinal política e religião estavam estreitamente interligadas- Jesus aparece como um paradoxo numa sociedade  complexa. Enquanto grupos incitavam a revolta, ele defendia a paz, se os homens se mostravam egoístas, sua mensagem pregava "dar ao que pede e não desviar de quem pede emprestado", em uma sociedade a espera de um reino político nas terras palestinas, Jesus contrapunha apregoando um reino muito mais poderoso, "O Reino dos Céus".

          Jesus conseguiu com seu amor incitar ódio e com seu discurso de conciliação promover divisão e separação; incomodou Roma- isto se não tiver se tornado uma ameaça a ela- e contraiu inimigos como os saduceus e fariseus, grupos elitizados de sua época, mas também fisgou corações de multidões, principalmente os marginalizados da época: pobres, mulheres e gentios! A arte de fazer discípulos percorria sua personalidade e de fato foi o que ele mais conquistou: Discípulos e promulgadores de suas ideias.

       A síntese da obra missionária de Atos dos Apóstolos é simples: A comunidade dos cristãos deveriam ser e promover a extensão do que Jesus era, isto se a própria Igreja não devesse ser, uma introdução do "Reino de Deus" na terra! Mas a Igreja se perdeu, a politização da Igreja e a negociação da Fé macularam o simples e incorrupto "Evangelho Original". Do grupo de simples e humildes seguidores, imperadores, senhores feudais e tantos homens poderosos se proliferaram no seio da Cristandade ao longo da Idade Média, como resultado: Uma coisificação do Evangelho! O Evangelium que deveria ser a "simples boa nova de Jesus", se metamorfoseou no produto de uma Igreja institucionalizada e contaminada pelos processos de mutação sociais e econômicos, tais como, o mercantilismo e o capitalismo.

     Não há problema em haver homens de negócio na Igreja, afinal, Jesus universalizou a possibilidade de salvação e graça a todos, não apenas ao pobres da terra, o problema é quando os homens de negócio fazem do evangelho, também um negócio! O problema não ficou retido nos anais do período medieval com o Catolicismo Romano e sua negociação do Evangelho, como as "indulgências", atravessou a modernidade e perdura com força máximo na contemporaneidade, especialmente nas igrejas evangélicas pentecostais e neopentecostais.

           É decepcionante, cansativo e revoltante perceber a Igreja Evangélica que outrora condenava o Catolicismo Medieval, hoje se faz refém de um abismo muito mais profundo.  Quantos são, os auto intitulados Bispos e pastores, sem contar os "lucradores" itinerantes que veem em seus "ministérios" boas possibilidades de lucro. Não digo que seja errado a manutenção do obreiro pela Igreja, nem tampouco o ofertar aos pregadores itinerantes, o que seria até mesmo anti- bíblico, haja vista, Jesus mesmo teria dito "que o obreiro tem direito ao seu salário". Minha denúncia são aos "ratos de altar", que usam de sua capacidade de manipulação das massas para explorarem o povo, que na sua cega ignorância, são levados tais como "ovelhas para o matadouro".

            Que tenhamos coragem de "descoisificar" o Evangelho e tornar a reinterpreta-lo como Graça e não apenas como, mas como um Evangelho que foi e deve ser dado: De graça! Lembremos das Escrituras:

"E durante a viagem, anunciem que o Reino dos Céus está próximo. Curem enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem leprosos, expulsem demônios. Vocês receberam de graça, de graça deem" (Mateus 10.7-8)

Um comentário: